BIOPSIA GUIADA POR TAC E CONTRASTE DO mIBG
Os dias vão passando e a Matilde vai estando bem, as dores minimizaram depois do clister e tem estado tranquila. O que é sempre bom.
Vem ai a Páscoa e tínhamos planeado, antes disto tudo, ir passar uma semana de férias ao Algarve. Iríamos muito à praia e ao Zoomarine (sitio preferido da Matilde). Como a Matilde estava estável, decidi pedir à Dr.ª Gabriela se podíamos ir. Concordou e disse, entre risos, que era um muito bom plano. Que alegria tão grande! Podemos ir passar a Páscoa ao Algarve com a família paterna, assim que os exames terminarem.
Hoje é dia de biopsia guiada por TAC, anestesiada claro, e injectar um contraste para amanhã realizar o mIBG, um exame radioactivo que mostra onde o cancro esta metastizado.
Apresentamos-nos no Hospital de Dia do IPO cedinho para colocar o catéter e fazer análises.
Assim que entramos na sala, a Matilde começou a chorar muito a dizer que não queria colocar a 'torneirinha' e quando mais lhe diziam que tem que ser, mais ela gritava e esperneava. Gritava de raiva, de tristeza, de desespero, com os olhos muito abertos na minha direcção a dizer que "NÃOOOO, eu já disse que NÃOOO e ponto final!".
Todos nós sabemos que aquilo tinha que ser feito, por isso abracei-a com força para que os braços não se mexessem e como não a tínhamos ouvido e não se conseguia mexer, mordeu-me. Mordeu-me com muita força. Não estava à espera!
"Tu mordeste-me Matilde!" - disse-lhe eu espantada
Não me disse nada
"Larga-me quero ver, larga-me que não vou fazer nada!"
Fiz o que me pediu com as lágrimas a correrem-me pela cara. Como era possível ela ter que ser sujeita a este sofrimento e eu não poder fazer nada?
Fomos ao WC fazer xixi e sentei-a no muda fraldas e ficámos as duas a olhar-nos e a chorar em silêncio. Foi muito intenso aquele olhar mútuo, foi de compreensão, de aceitação, de desculpabilização, de ajuda. Foi o momento chave que mudou o rumo das coisas. Abraçamos-nos e pedimos desculpa uma à outra. Limpámos as lágrimas e voltámos a colocar os nossos sorrisos. Somos fortes, somos duras, somos de garra!!
Fomos para a imagiologia e esperamos a nossa vez.
Aparece a Dr.ª Lurdes, a amável Dr.ª Lurdes anestesista. Recebe-nos com um sorriso como é costume, pergunta como temos estado. Ausculta a Matilde e diz estar tudo ok. Entrámos na sala do donut (como a Matilde chama às TAC) e deita-se sabendo que vai dormir. Ri-se muito, diz tonteiras, e lá vem outra vez aquela conversa.
"Estou a ficar tão tontinha..."
"É normal filha, a Mãe está aqui amor"
"Eu sei Mãe, mas isto é mesmo divertido, tontinhaaaaa" - dizia ela entre risinhos
Eu ria-me.
"Mãeeeee" fechava os olhos - abria "Mãeeeeee"
"Estou aqui meu anjo"
"Mãa....."
O meu coração ainda não estava preparado para este momento e as lágrimas ameaçaram cair, a atenta Dr.ª Lurdes que me olhava, questionou:
"Mãe, está novamente sozinha?"
"Sim, mas não se preocupe comigo, olhe pela minha menina"
"Eu olho Mãe, mas quem olha por si? Quem cuida de si?"
"Não se preocupe que eu tenho uma aldeia enorme, não estão aqui mas estão comigo"
A Dr.ª Lurdes sorriu e eu sai da sala, pedindo mais uma vez que cuidem da minha menina.
Vim à rua, estava frio e soube-me bem. deixei cair algumas lágrimas. Recompus-me e liguei ao Miguel. Ele vem a caminho. Bebi um café, comi um salame porque estava mais uma vez em jejum. Tirei uma água da máquina e guardei. A Matilde ia pedir-me água quando acordasse.
Voltei para junto da porta da TAC. A Dr.ª Gabriela andava por lá. Sossegou-me dizendo que tinham conseguido o material necessário, não seria preciso uma cirurgia. A Dr.ª Lurdes disse que estava quase. Poucos minutos depois a porta abriu-se e saiu a minha pequenina, adormecida ainda, como era normal. Recobro, comer.
O Pai Miguel chegou. Ajudou-nos a voltar ao Hospital de Dia e fiz questão que conhecesse a Dr.ª Gabriela.
A Matilde que estava sentada numa cadeira de rodas, adormeceu.
Falamos com a Dr.ª Gabriela muito tempo, tanto que perdemos a conta... Questionamos se valia a pena iniciar os tratamentos, ao que a Dr.ª Gabriela nos disse que deveria ser dada essa oportunidade à Matilde, eu estava céptica ou aterrorizada, porque eu não queria iniciar, isto já era tão ruim, que não valia a pena estar a sujeita-la a mais sofrimento e maldades, não existira necessidade de a estar a inundar de químicos fortes que a façam perder o cabelo, vomitar, perder as forças e as suas capacidades para depois não ter qualidade de vida. Sempre priorizei a qualidade de vida em prol de tudo. E assim continuo a pensar. O Pai Miguel queria iniciar os tratamentos, por isso decidimos avançar. Perante duas opiniões divergentes em que uma é mais radical, temos sempre que priorizar aquela que é mais razoável.
Foi-nos dito em que consistia o tratamento da Matilde, seria assim:
- Quimioterapia
- 8 ciclos com 10 dias de intervalo cada
- Cirurgia
- Quimioterapia de alta dose + autotransplante
- Radioterapia
- Imunoterapia
Aceitamos o que nos estava a ser proposto e combinamos que iniciávamos a 24/04/2019, assim que viéssemos do Algarve. Deveríamos de ir ao piso 7 - pediatria e dar entrada pelas 10h30/11h00.
Tudo combinado e deixamos o Pai Miguel ir trabalhar e fomos fazer o Lugol (para proteger a tiróide do exame nuclear). Existem duas formas de administrar o Lugol: nas pregas subcutanêas ou via oral.
Tentámos pela via oral e foi a pior asneirada do mundo! Aquilo parece tintura de iodo, a Matilde ficou com dos dentes e língua todos castanhos, com um sabor horrível, acabou por vomitar e depois não quis mesmo tomar mais nada! Teve que ser posto nas pregas (axilas, virilhas, dobras as pernas e braços).
Fui eu que lhe dei o Lugol oralmente, assim que a Matilde vomitou, aproximou-se de mim outra Mãe que lá estava e disse-me ao ouvido com um sorriso "Fiz o mesmo há 4 anos atrás" e falamos um pouco sobre isso. Foi bom saber que não estava naquela caminhada sozinha, que é normal cometer este tipo de erros.
Esperamos cerca de 1h e fomos à Medicina Nuclear para injectarem o contraste do exame de amanhã. Injectaram sem problemas e as enfermeiras lá são fenomenais. Brincaram muito com a Matilde, riram-se e ofereceram-lhe uns miminhos.
Viemos para casa preparar o jantar para a família Figueiredo que vinha jantar connosco hoje. Arroz de Pato.
A Matilde adormeceu e teve a dormir a tarde toda. Até à hora do jantar. Não teve grande apetite, comeu pouco e durante o jantar o Avô João teve que ir apanhar ar fresco de tão emocionado que estava com a condição clínica sua Má.
Amanhã temos que voltar ao IPO para fazer o mIBG e se tudo correr bem, a seguir vamos para o ALGARVEEEEEE!! Ohhh yeahhhh
Viemos para casa preparar o jantar para a família Figueiredo que vinha jantar connosco hoje. Arroz de Pato.
A Matilde adormeceu e teve a dormir a tarde toda. Até à hora do jantar. Não teve grande apetite, comeu pouco e durante o jantar o Avô João teve que ir apanhar ar fresco de tão emocionado que estava com a condição clínica sua Má.
Amanhã temos que voltar ao IPO para fazer o mIBG e se tudo correr bem, a seguir vamos para o ALGARVEEEEEE!! Ohhh yeahhhh
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